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Sequência dos "Senhores" da Casa, administradores do prazo e/ou proprietários

        1- Ruy Abade (provavelmente, antes, três ou mais enfiteutas desconhecidos).
2- Brianda Soares Pedro de Queiroz.
3- António de Queiroz.
4- Desconhecido.
5- Amador de Queiroz Pereira.
6- João Lobato de Queiroz.
7- Luís António Pereira de Queiroz.
8- Manuel de Queiroz Pereira Peixoto e Sousa.
9- Estevão de Queiroz Machado Vasconcellos.
10- Joaquim de Queiroz.
11- Estevão A. de Queiroz.
12-  D. Maria do Carmo de Queiroz – António Coutinho de Villena.
13- D. Maria da Purificação – Conde de Azevedo.
14- Artur de Barros Lima.
15- António José Lopes Gomes (Cinco Minutos).
16- Mário Henrique Borges Cabral.
17- Joaquim Teixeira.
18- Raul Pereira da Rocha.
19- Marcelino Ilídio Vilarinho Pereira da Rocha.
20- Maria de Lurdes Matos Pereira da Rocha.

Cronologia

1099- Fundação da Ordem de S. João Baptista, mais tarde chamada Ordem do Hospital, hoje Ordem de Malta.
1128- Doação pela Condessa D. Teresa, à Ordem, da vila de Soure.
1155- Nuno Fernandes representa a casa de Valadares.
1185- Início do reinado de D. Sancho I.
1194- Doação, por D. Sancho I, à Ordem, das Terras de Guindintesta (Belver).
1232- Novas doações de Terras à Ordem, por D. Sancho II.
1340- Os Priores do Hospital passam a chamar-se Priores do Crato, onde a Ordem passa a ter Sede.
c.1450-  Emprazamento primordial dos terrenos da Quinta.
1530- Cedência da Ilha de Malta, por Carlos V, à Ordem.
1551- Renovação do Prazo por três vidas a Ruy Abade, casado com Branca Soares, cuja filha Brianda casa com o licenciado Pedro de Queiroz, originário de Vila Real (2ª vida).
1577- É administrador do prazo, António de Queiroz, neto de Ruy Abade (3ª vida).
1604- Concessão do brasão a António Queiroz, reinando D. Filipe II de Portugal, III de Espanha (Decreto d 4 de Maio), com as armas dos Queiroz, Pereiras, Barbosas e Gouveias.
c.1630-  Revolução do milho.
1677- Sentença do Tribunal de Valadares sobre a repartição da água do Rego do Monte.
1681- Testamento de Amador Queiroz Pereira, incluindo a instituição do vínculo.
1700- Renovação do prazo ao Capitão Lobato Queiroz.
1722- Testamento de Cristóvão Pereira, bisavô materno de Estevão Queiroz.
1725- Testamento de João Lobato Queiroz.
1744- É administrador Luís António de Queiroz. Última presença dos visitadores da Ordem de Malta. A capela encontra-se em mau estado.
1755- Nasce Estevão Queiroz, filho de Manuel Queiroz e D. Maria Joana de Gusmão Vasconcelos d’Almeida e Gama. Instituição de vínculo por  António Pereira de Queiroz.
1775-  Testamento de António Pereira de Queiroz.
1791- Assenta praça, no Regimento de Infantaria de Valença. O Arcebispo de Braga, D. Frei Caetano despacha sobre o canto das ladainhas de Maio, na capela da Quinta.
1798-  Secularização da Ordem, por Napoleão.
1800- Renovação da sepultura da família Queiroz, na igreja de Ceivães.
1805- Casamento de Estevão Queiroz. Doação a este da Casa.
1806- Nasce Joaquim Queiroz Machado e Vasconcelos.
1808- Compra de uma leira em Santo Amaro e de outra na Pataquinha. Aumento dos bens da Quinta, em diversas freguesias.
1810- Cortes de Cadiz.
1813- Presença na Quinta de D. Rafael de Musquiz, Arcebispo de Santiago de Compostela, por motivo da instauração do liberalismo em Espanha.
1814-  Retorno do Absolutismo em Espanha.
1816- Reconstrução dos moinhos da Costa Bela.
1818- Início da redacção do Livro da Razão.
1819- Joaquim Queiroz feito Fidalgo Cavaleiro da Casa Real.
1828- Estevão  e Joaquim Queiroz presos quando governa D. Miguel.
1834- Extinção da Ordem em Portugal (Reforma Liberal).
1835- Joaquim Queiroz, Administrador do Concelho de Valadares.
1840- Nasce D. Maria do Carmo Queiroz.
1846- Joaquim Queiroz deputado às Cortes.
1850- É administrador Estevão Queiroz.
1853- Estabelecimento da Via Sacra na capela da Casa.
1885- Joaquim Queiroz feito Barão do Hospital (D. Pedro V)
1894- Promulgada legislação sobre sindicatos agrícolas promovida por Carlos Lobo d’Ávila.
1897- Casamento de D. Maria da Purificação com o futuro 2º Conde de Azevedo.
1904- Morre D. Maria do Carmo de Queiroz. É administradora D. Maria da Purificação.
1905- Conde de Azevedo cria Sindicato Agrícola de Monção e a Junta Local de Monção da Liga Naval Portuguesa.
1908- Conde de Azevedo deputado.
1910- Proclamação da República Portuguesa.
1914- Conde de Azevedo exilado em Espanha.
1919- Monarquia do Norte.
1921- Conde de Azevedo amnistiado.
1927- Criação da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes. Conde de Azevedo primeiro presidente.
1934- A Quinta é hipotecada a Artur de Barros Lima.
1935- Novas hipotecas a favor de Maria Pinheiro Torres, Banco de Barcelos e outros.
1936- Artur de Barros Lima adquire a Quinta, por arrematação judicial.
1942- A propriedade é comprada por António José Lopes Gomes ( Cinco Minutos).
1943- A Quinta é adquirida por Mário Henrique Borges Cabral.
1949- O prédio é comprado por Joaquim Teixeira.
1959- O imóvel é comprado por Raul Pereira da Rocha.
1982- Por falecimento do proprietário, a Quinta é herdada por seu filho, Marcelino Rocha.
2002- Por falecimento do proprietário, a Quinta é herdada por sua mulher, Maria de Lurdes Rocha.

A Capela

Aspectos gerais


Além da simples cobrança do foro, o interesse da Ordem pela sua Quinta de Ceivães, manifestou-se até tarde pela sua capela, talvez testemunho da antiga existência de um cenóbio neste local.
Uma antiga referência a essa capela então designada, por igreja, encontra-se no Tomo da freguesia de Ceivães, então ainda chamada de Mourojusão (1566).
“Ao tratar dos limites desta com a de S. Miguel de Messegães, diz-se que esta parte do rio Minho, no “Porto Affontenllo”, seguido pelo regueiro entre as vinhas de “Favoall” e “Mortteira” até ao porto do caminho e dali deixa o regueiro do “Fontenllo” pelo que vai entre as herdades de Álvaro de Senra e o souto de Álvaro Afonso do Paço, tudo pelo cômaro acima, por entre a vinha de Pêro Gonçalves e Julião Rodrigues de “Cerbais” e dali pelo coto de Eiró, águas vertentes, por o meio do coto e vai ter à estrada pública que vai do Paço do concelho de Valadares para a Ponte do Mouro e dali por a estrada até o Portal que vem da igreja do “Spittaall”, por o campo e dali vai por o caminho que vai para “Cerbaes” até o rego que sai da Lamela para o “Esprittaall” e dali por o cômaro que está direito, o que em debaixo está na cabeça da horta e dali vai até as casas da Lamela que quedaram de Gonçalo Menynho que ia por entre as vinhas que ficaram de Álvaro Esteves de “Cerbães” e Gonçalo Menynho e das casas pelo caminho direito ao coto das Teixugueiras.”
Estas referências topográficas resultam, hoje, confusas, não permitindo garantir se a citada igreja se localizava, ou não, no mesmo sítio da actual capela. Mais clara é a informação que nos dá o Padre Gonçalo Pereira de Caldas a 13 de Abril de 1758 que afirma que ela estava “pagada” à casa.
O primitivo templo estava em muito mal estado em 1744, mas ainda, por força do emprazamento de 1700, o Comendador de Távora, era obrigado a mantê-la paramentada, pelos dízimos da Quinta .
Em tempos anteriores, davam-se, por conta do mesmo Comendador, ao Pároco de Ceivães, dois mil reis, cada ano, para vir desobrigar as pessoas da casa, na Quaresma.
Estes costumes e direitos perderam-se, por força e uma visita da Ordem, feita em 1744, em que se resolveu que a capela, de que se utilizava então Luís António Queirós, se demolisse ou ficasse desobrigada a Comenda de a reedificar e paramentar e de dar ao Páraco os dois mil reis anuais. Disso se terá passado decreto em Capítulo da Ordem, realizado em Malta. Por isso, os visitadores da Ordem não voltaram ao local.
Afigura-se que os senhores da casa se resolveram eles próprios, a reparar a capela ou construir uma nova, pois já se encontrava em condições para aí se celebrarem missas regularmente em 1755, como se verá em seguida. Em 1807, foi aí celebrado o casamento de D. Francisca Inácia de Queiroz.



Vínculo instituído por António Pereira de Queiroz


António Pereira de Queiroz, foi morador no lugar da costa, freguesia de “Ceivains”, fez o seu testamento a 13 de Fevereiro de 1755 instituindo um vínculo ou capela, com obrigação de uma missa em todos os domingos e dias santos na capela da Casa do Hospital, destinando a tal fim os seguintes bens:
- Casas de morada no lugar da Costa, que mais tarde, foram possuídas por Francisco Rodrigues, do lugar das Devezas, por troca com uma leira de mato, sita na Patequinha, dentro da Quinta;
- Campo e monte do Carvalhal;
- Campo das Devezas;
- Leira de Cimo de Vila, com sua “lata na cabeça”, vendida mais tarde por Manuel e Queiroz Pereira Peixoto e Sousa a Caetano Manuel da Costa, do mesmo lugar de Cima de Vila;
- Leira de campo e vinha chamada Rebeliça, ,cuja localização já se ignorava por volta de 1818;
- Coutada do Cobelo;
- Coutada de Moucheira, com reserva do usufruto para a criada do instituidor, enquanto fosse viva;
-  Um campo em cima de Mouro;
- Um campo que foi de Mário Lourenço, no lugar das Quartas, em Cima de Mouro;
- Um campo, casa e lagar, no lugar do Souto, freguesia de Barbeita;
- Uma leira de campo em Barbeita;
- Um “papel” de 41500 reis com seus juros, na mão de António Rodrigues, ferrador da freguesia de Barbeita e que se deveria empregar, mais tarde, em terra dízima a Deus, o que ainda se não concretizara por volta de 1818.
Estes testamento foi registado nos livros da freguesia e igreja de Ceivães e reduzido a pública forma no Juízo da vila de Valadares, pelo Juiz Doutor João da Gaia Torres; Não foi, porém, registado na Provedoria, nem nos Rezidos, em Valença.
Mais tarde, houve dúvidas se alguma vez foram ditas as correspondentes missas.
Estêvão Queiroz, em princípios do séc. XIX, teve ainda o cuidado de obter um Breve de Componenda das missas que se achassem por rezar, o qual lhe foi concebido pelo Papa, passando, a partir daí, a considerar-se este vínculo extinto, ou não existente. A ele se referem as páginas 222 verso e 228 do livro “Livro da Razão”.
É provável que António Pereira de Queiroz, fosse parente muito próximo dos senhores da casa, talvez irmão de Luís António de Queiroz e tio ou tio-avô de Estêvão de Queiroz Machado Vasconcelos, autor do citado livro, pois este intitula-se na página 227 como administrador do vínculo, o que faz supor, também, que o instituidor não teve filhos.
Este testamento, dado o abandono da capela pela Ordem de Malta em 1744, pode estar relacionado com a sua reconstrução.



D. Rafael de Músquiz (1813)


Os exércitos franceses invadiram a Galiza em Janeiro de 1809, tendo sido expulsos, em Junho, principalmente pela acção das guerrilhas populares, dirigidas por clérigos e fidalgos, mas as ideias liberais, por essa época, importadas de além Pirenéus, permaneceram, tendo dado origem, em Espanha, à formação de dois partidos: absolutista e liberal.
O Arcebispo de Santiago D. Rafael de Músquiz Adonate, como o Bispo de Orense D. Pedro Quevedo, apoiaram o primeiro.
Reunidas as Cortes de Cádiz em 1810, e promulgada a Constituição liberal de 1812, D. Rafael de Musquiz, perseguido pela Regência e pelas Cortes, que desejavam prendê-lo e castigá-lo, por se opor aos Decretos que visavam diminuir os direitos da igreja e do rei D. Fernando VII, então cativo em França, por Napoleão Bonaparte, resolveu exilar-se em Portugal, tendo escolhido para local de asilo a Casa do Hospital, com cuja família estaria relacionado, pelo facto de ser originária do seu Arcebispo, a Senhora da casa, D. Joaquina.
O retorno temporário do absolutismo, em Espanha, em 1814, permitiu-lhe regressar à sua Diocese.
Entretanto, porém, procedera a Ordenações Gerais, na pequena capela do solar, que assim, substituiu, por algum tempo, a grande catedral de Compostela.
Entretanto, porém, por Breve de 18 de Novembro de 1813, concedeu, a quem reze um Padre Nosso e uma Ave Maria diante da imagem de S. João Baptista, patrono da capela, oitenta dias de indulgências. Foi a forma de manifestar o seu agradecimento a quem o havia recolhido, apesar de não partilhar das suas posições políticas, como vai ver-se mais à frente.
O evento ficou documentado, na própria capela, onde uma tábua de 48x30 cm, pintada de branco e escrita a preto está colocada junto ao altar-mor do lado da epístola, com os dizeres que transcrevemos com pequenas actualizações, para melhor leitura.







A Via Sacra


A um de Dezembro de 1853, o Pe. José de Carvalho, Reitor da freguesia do Salvador de Ceivães, concedeu licença ao Padre Pregador Apostólico Frei José Ramon Acuña, do Colégio de Missões de Santo António de Erbom, para estabelecer e benzer a Via Crucis nesta capela, com as indulgências concedidas pelos Breves Pontifícios, o que, efectivamente, foi feito no dia seguinte, conforme certificado assinado pelo referido Pregador, cujo documento se encontra arquivado na casa, e, em seguida se transcreve:


Estabelecimento da Via Sacra
Eu, José de Carvalho, Reitor da freguesia de São Salvador de Ceivaes, concedo licença do Padre Pregador Apostólico Frey José Romão Acunha do colégio de Missoens de Santo António de Erbom, para que possa estabelecer e benzer o Santo via crucis na Capella da Caza do Hospital de invocação de São João Baptista nesta freguesia de Ceivaes para que se possao ganhar as indulgencias concedidas pelos Breves Pontefícios deste Santo exercício. E para que conste esta licença a assigno na minha residencia no 1º de Dezembro de 1853.
a)               a) O R. José de Carvalho

Certificação
Frey José Romão Acunha pregador Apostólico do Colegio de Missoens de Santo Antonio de Erbom certifico que estabeleci e benzi o Santo via crucis na Capella de São João Baptista da Caza do Hospital freguesia de Ceivaes, com todos os poderes necessarios e para que conste assigno a 2 de Dezembro de 1853.
a)    Fr. Jose Ramon Acuña

O Solar

Em local pouco central, um tanto a Nascente e Norte da Quinta, ergue-se a casa senhorial, de imponente fachada filipina, parcialmente caiada e exposta a Poente.
Uma escadaria central, em pedra, escurecida pelos séculos e revestida por fungos e líquenes, contrastando com o branco das paredes, dá acesso ao andar nobre.
A porta principal, é enquadrada por amplas janelas de sacada, quatro de cada lado.
A pedra de armas, que coroa o edifício, representa o brasão concedido à família da casa por D. Filipe II de Portugal, III de Espanha, em 1604.
O andar térreo, dividido pelo assento da escadaria, mostra lateralmente, duas portas e duas janelas. Aí existiram cavalariças e dependências agrícolas, mas também, quartos e salas, como por exemplo, o escritório – biblioteca do Conde Azevedo (início do século XX).
A fachada Norte mostra no andar nobre, cinco janelas de guilhotina, ornamentadas, de um lado e de outro, por pequenas carrancas destinadas a suporte de vasos floridos, as quais abrem para quartos e sala de jantar.
A fachada Nascente, em linha quebrada, vira-se, parcialmente, para um típico quinteiro, para o qual se abrem, também, vários anexos, delimitando um espaço fechado.
Avultam aí a casa dos lagares, o alambique, as antigas cortes do gado, uma cozinha térrea, depósitos para lenha, adegas, uma casa de caseiros e um antigo pombal, hoje adaptado a quartos e datado de 1741.
No interior do corpo principal da casa, são de realçar os salões que ocupam a sua parte média, a sala de jantar exposta a Norte e Este, servida por uma cozinha, com tecto em castanho e com uma imponente chaminé colocada a Nascente.
Dos sete quartos do andar nobre são de realçar o que ocupa a esquina NW, conhecido pelo nome de quarto do bispo e outro que dispõe de uma bela lareira em pedra, ornamentada ao gosto barroco.
O acolhedor quinteiro, rodeado pelo edifício principal e seus anexos, serve como local de convívio, em redor do qual as principais actividades domésticas e agrícolas, em tempos passados, estavam centradas.
Para ele se vira a cozinha rústica, dotada de lareira e dois fornos de lenha para pão, um dos quais de invulgares centradas.
Nela se preparam ainda, os célebres anhos e cabritos com arroz, iguarias máximas da culinária loca, bem como os presuntos, enchidos e outras especialidade baseadas no porco, fumadas na ampla chaminé granítica e conservadas na tradicional salgadeira.
O andar térreo do edifício principal, encontra-se parcialmente adaptado a habitação e zona de lazer.
Algumas paredes mostram sucessivas adaptações, encontrando-se vestígios de chaminés, enquanto, no exterior, se vêem antigas portas em arco.
O conjunto dos dados arquitectónicos e históricos, indiciam a fundação medieval da casa.
A configuração quadrangular da zona hoje ocupada, no andar nobre, pela cozinha, bem como os vestígios arquitectónicos observáveis por baixo dela, sugerem a possibilidade de aí ter existido uma típica torre, talvez um cenóbio da Ordem do Hospital.
Como se sabe, as casas anteriores aos chamados solares, eram em forma de torres, que possuíam, para alem da sua função habitacional, a de defesa. Estas, por diversos modos, foram depois incorporadas nos posteriores solares.
A pouca distância da Quinta do Hospital há conhecimento, por exemplo, da torre dos Vilarinhos, em Badim e da dos Soares, em Tangil.
Embora não tenhamos memória escrita de uma torre no lugar do Hospital, não é de excluir a hipótese de uma construção semelhante, feita pela própria Ordem ou pelos primitivos enfiteutas.
Perpendicularmente ao edifício principal, uma outra ala, paralela à Estrada Nacional 202, foi em tempos, ocupada por uma adega de tecnologia romana, e mais tarde, por cavalariças, cortes para gado, palheiros, nitreiras e garagem, de tudo permanecendo vestígios arquitectónicos, alguns subterrados, como uma cisterna e “canles” em granito.
São de realçar o fontanário que serviu de bebedouro aos cavalos, encimado por uma taça com dois golfinhos, tudo em granito, e o portão de entrada terminado, do lado Poente, por um relógio de sol antropomórfico.
Esta zona, recentemente reconstruída, encontra-se adaptada a salão de festas, bar e cozinha.
Quatro salas do andar nobre estão decoradas por pinturas murais de finais do século XVIII ou princípios do seguinte, ao que parece cópias ampliadas de gravuras, realizadas por artistas locais, de distinto valor.
A sala de jantar apresenta a decoração mais rica, simbolizando as quatro estações do ano, tendo algumas figuras, simultaneamente, significado mitológico: Ceres, Barco e Vulcano. Uma bela decoração floral, encima de um lindo lavabo barroco de pedra granítica.
A sala do lado Sul, mostra motivos clássicos, em que sobressaem reproduções de bustos greco-romanos.
A mais pequena é ornada com motivos musicais, tais como reproduções de instrumentos, sendo, por isso, designada como “sala da música”.
A sala nobre possui no tecto uma boa tela representando um Cupido, um Apolo e um lambrim de tons azuis, talvez influenciado pelas decorações em azulejo do século XVIII, com motivos ingleses, chineses e outros.
A ampla sala central, que dá acesso à escada exterior, tem um belo tecto de madeira, repetindo, no centro, o brasão que coroa a porta principal.

A Propriedade Agrícola

Do ponto de vista fundiário, trata-se, actualmente, de uma notável Quinta minhota, formada por uma área agro-florestal de uns 20 hectares, localizada na freguesia de Ceivães, concelho de Monção, na margem esquerda do rio Minho, um pouco a montante da foz do seu belo afluente – o Mouro.
O conjunto encontra-se cortado longitudinalmente pela Estrada Nacional 202, ao seu quilómetro 113, a qual limita, a Sul, uma zona quase florestal, designada a “mata” e, a Norte, outra, de carácter predominantemente agrícola, ambas rodeadas por vias públicas de desigual importância e vedadas por muros de pedra de variada feitura.
O prédio foi descrito sob o nº 51.135, a 27 de Novembro de 1934, na Conservatória do Registo Predial de Monção, nos seguintes termos:
- “Casa nobre denominada do “Hospital”, com capela, casa de criados, canastro, abegoarias, pombal, casas de caseiros, cortes de gado e campos de lavradio e vinha, laranjal, pomar e montados de mato, com pinheiros, carvalhos, sobreiros e eucaliptos, tudo situado no lugar do Hospital, da freguesia de Ceivães, sendo a parte rústica atravessada pela Estrada Nacional”.
Foi-lhe, então, oficialmente atribuído o valor venal de cem mil escudos.
Partindo, hoje, do cruzamento do Escampado, onde nasce a estrada municipal da Valinha para Tangil e, seguindo esta, fica à esquerda o muro da mata.
Abandonando esta via, no local da Moucheira, o muro acompanha o caminho público que vai em direcção a Messegães, até que este, no sítio das Lamelas, atravessa a referida Estrada Nacional 202.
O limite da propriedade, a Nascente, toma então, a antiga Estrada Real, a qual contorna a propriedade, também pelo Norte, até ao Largo da Feira.
Daí, a Poente, a Quinta é limitada pelo caminho que segue da capela de Stº Amaro para o lugar do Escampado, fechando, desta forma, o circuito.
Outrora, a Quinta alargou-se, constando que, pelo Norte, ía até ao rio Minho, englobando a capela de S. Bento e zonas limítrofes. Pertenceram-lhe, em certa época, muitos campos dispersos pela freguesia de Ceivães e por outras próximas, porém, o núcleo, tal como hoje se apresenta, após sucessivas anexações e reduções, não parece muito diferente do que, primitivamente, teria sido.
A zona florestal é constituída por uma mata de pinheiros e eucaliptos, começando, ultimamente, estes a predominar. O sub-bosque é formado por cereais espontâneos, tojo, giesta e outras espécies herbáceas e arbustivas.
Raros carvalhos, sobreiros e castanheiros dispersos, bem como duas alas de cedros, bordejando um caminho transversal, e uns poucos exemplares de outras árvores completam o quadro florístico.
No interior da área florestal, um típico moinho de água, um poço, um grande tanque de rega e uma fiada de casas térreas, que serviam de habitação de caseiros, armazéns e cortes de gado.
Recentemente, foi contruído um posto eléctrico de transformação e um estábulo, para 50 cabeças de gado bovino.
Um duplo traçado de alta tensão corta a mata, aproximadamente, no sentido Poente-Nascente, a fim de abastecer o vizinho concelho de Melgaço, e algumas outras freguesias de Monção.
A zona agrícola é formada por uma dezena de parcelas. Ao longo da estrada nacional, avultam o campo da Bessada e o de Santo Amaro, este próximo da capela da mesma invocação, cada um provido de um poço.
A Nascente, quase em forma de anexo, localiza-se o campo, designado das Lamelas, separado da área habitacional por um pomar murado e fechado por um portal de madeira. Junto, um pequeno núcleo de pinheiros persiste em lembrar-nos que por ali terá existido o antigo Pinhal do Frade. Perto, um grande pombal redondo, hoje despovoado.
Junto à estrada, contíguo ao pomar, fica o estreito e comprido Campo do Còradoiro, que terá sido amputado, na sua largura, pela Estrada Nacional Monção-Melgaço, tendo deixado do lado oposto, algo do que dele restou. Esta via foi começada a construir em 1870.
Acompanhando, a pequena distância, a fachada Norte do solar, sobressai o imponente canastro ou espigueiro, de 18 mós, dos mais longos da região, testemunho gritante do que foi o esplendor da cultura do milho, a partir da sua introdução, no século XVII, até quase final do século XX, encontrando-se, agora, em clara regressão, por toda a região.
Junto a ele, a indispensável eira de pedra, onde se secava e debulhava o cereal, com um pequeno alpendre de armazenagem, de construção recente (séc. XX).
Logo abaixo, um pitoresco e romântico jardim e laranjal, de canteiros delimitados a pedra, com um tanque de rega central, ao redor do qual se desenham caminhos e escadarias.
Um olival, a NE da casa, completa o conjunto agrícola. Um curioso tanque de rega, a nível inferior, abastecido por uma mina, localiza-se no limite do arvoredo com o campo antes chamado de Entre-as-Latas e hoje mais conhecido pelo nome de Macaco, em razão de uma carranca existente no referido tanque.
Numa pequena elevação, o referido pombal redondo, caiado e rodeado por um pequeno bosque.
Os campos são bordejados por vinha em latada, ao estilo da região. O vinho branco e tinto produzidos, são de grande qualidade.
Antes de 1949, existiam ao longo do limite Norte do campo da Bessada, grandes castanheiros.
O prazo estava devidamente delimitado, principiando a sua medição no Portelo do Frade do Isqueiro, que já não existia em 1818, mas que se sabia ter sido localizado na frente da Estrada Real que vem de Valadares e que torneia a Quinta pelo Norte (como ainda hoje) até ao cruzeiro de Santo Amaro. Este, porém, já naquela data havia sido mudado para o alto do Terreiro da feira.
O sítio onde estava primitivamente, foi murado e plantado de vinha que ficou então reunida à então chamada das Cruzes.


A Ordem Hospitalar

Fundada em 1099, com o nome de Ordem de S. João Baptista de Jerusalém, rapidamente se expandiu na Europa e, em particular, na Península Ibérica, onde, como na Terra Santa, os cristãos terçavam armas com os Muçulmanos.
A sede da Ordem foi sucessivamente transferida de Jerusalém para Chipre, Rodes e Malta (1530) e, mais tarde, para Catania, Ferrara e Roma (1831).
A introdução da Ordem do Hospital na Península Ibérica, está relacionada com as lutas da reconquista, tendo acompanhado, para Sul, a expansão cristã, desde os princípios do século XII. Anteriormente a 1132 sob a chefia do vigário Paio Golindes, os hospitalários possuíam bens imóveis em território hoje Português.
A Ordem do Hospital, tinha casa em terras de Valadares, nos primórdios da fundação de nacionalidade, conforme refere Joaquim de Castro Pereira, em artigo do jornal “A Voz de Melgaço” de 01 de Junho de 1996. 
É provável que estes terrenos tivessem sido incluídos nas doações feitas por D. Teresa à Ordem. Aquela Senhora favoreceu a instalação do Priorado do Hospital de Leça, onde se manteve até 1340. 
D. Sancho I fez novas e importantes doações aos Hospitalários, mas já na Beira Baixa (Sertã,  Oleiros, Pedrógão, Belver). Com D. Sancho II, a Ordem alargou-se até Moura, Serpa e Crato.
Entretanto, é provável que o interesse na Ordem pelas suas posições a Norte, fosse diminuindo, pois era no Alentejo e, depois no Algarve, que continuavam as lutas contra os sarracenos.
Assim, os numerosos e pequenos domínios que a Ordem possui no Norte e Centro ter-se-iam transformado, principalmente, em fontes de rendimento, obtido através de contratos de aforamento. Nas Inquirições de 1258 refere-se a presença da Ordem em Mourojuzão ou Moujuzão, hoje Ceivães.
Na região, terá permanecido, apenas,  um pequeno número de freires – os necessários para garantir a administração dos seus bens.
Foi assim que, na freguesia de Távora, no concelho de Arcos de Valdevez, se manteve um pequeno cenóbio, sede da chamada Comenda de Távora, onde eram recebidos anualmente, os foros da Quinta, e outros.
Aí se encontra, ainda, a capela da Ordem. E alem disso, a antiga presença dos Hospitalários, é hoje assinalada nesta região pouco mais do que por topónimos.
Assim, refere-se ainda no concelho de Monção, o lugar do Hospital, no centro da actual freguesia de Lordelo, não longe da de Parada. A conjugação e localização destes topónimos, sugere que ali se fizesse o caminho de Ceivães para Távora, correspondendo essa “parada” ou paragem ao descanso correspondente a cerca de metade do percurso.
Também na Galiza, se encontram locais com a designação de Hospital, os mais importantes afiguram-se-nos os sítios no concelho de Tomiño (Pontevedra) e dois na província de Lugo, não muito afastados um do outro. O primeiro, no Incio, a Norte da Serra da Penha Redonda, e o segundo mais a NE, vizinho do Alto do Poyo (1337 metros), no caminho de Santiago e a Norte da Serra do Courel.
A casa e a Quinta gozaram, por muitos anos do privilégio de Couto da Ordem de Malta, o qual só foi extinto quando da abolição geral desses Coutos.
Em 1818, ainda havia recordação de a casa ter sido residência dos freires de S. João, sendo a Quinta passal da respectiva ermida.